Ciclos econômicos – Segunda parte

fevereiro 11th, 2021

ciclos econômicos

Em continuidade ao tema dos ciclos econômicos, abordarei sobre os métodos e fórmulas que utilizo para identificação de tendências econômicas.

Recapitulando, na primeira parte dos ciclos econômicos, mencionei o conceito de um ciclo, utilizando análises empíricas e sociológicas, bem como discorri sobre a sua aplicação nos diferentes estágios de transição econômica, tais como: expansão, prosperidade, recessão e depressão.

Métodos para identificação de tendências dos ciclos econômicos

Existem diversos métodos de análise que auxiliam qualquer indivíduo a extrair indícios sobre o início, meio ou fim de algum ciclo econômico.

Meu objetivo aqui não é apresentar um rol taxativo, mas incitar você ao aprofundamento deste tipo de estudo que envolve, de um lado, a análise fundamentalista (pautada em bases históricas, reais e contábeis) e, do outro lado, a análise gráfica incipiente (pautada no uso básico de gráficos para compreensão visual de todo o contexto histórico).

Muitos dizem que não se pode acreditar somente no que a história relata, sob o argumento de que nem sempre o passado se repete. Em se tratando de ciclos econômicos, entretanto, o próprio nome já deixa uma incógnita sobre esse preconceito.

Os ciclos até podem não ser fenômenos premeditados, mas fazem parte da natureza do comportamento humano na busca de melhores condições para incrementar e não deixar pulverizar suas economias ou, sendo mais inovador, na tentativa de explorar uma revolução transcendental (ex: surgimento das empresas pontocom, machine learning, inteligência artificial e blockchain).

Antes de prosseguir, eu recomendo que os métodos não sejam aplicados de forma isolada e que estejam baseados no maior número de dados concretos possíveis.

Ao final da listagem exemplificativa dos métodos, deixarei fontes essenciais para a realização da pesquisa de dados.

Índice Preço sobre Lucro por Ação (P/L)

Ação é nada mais nada menos do que uma parte representativa de uma empresa. Ação é o nome concebido pelos intelectuais para dizer que um indivíduo é dono de uma determinada empresa.

Assim, por exemplo, se uma empresa possui 100 ações e você detém 50 ações, logo será sócio e dono de 50% desta empresa.

Suponhamos que no momento em que você comprou as 50 (cinquenta) ações elas valiam R$ 1,00 cada e, ao final do exercício social, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 200,00, logo terá R$ 0,20 por ação.

Para chegar ao cálculo do lucro por ação, basta dividir o lucro total registrado pela quantidade de ações existentes, ou seja:

R$ 200,00 (lucro líquido da empresa) / 100 (total de ações da empresa)
= R$ 0,20 (lucro por ação)

Extraída esta primeira informação, obtida após análise contábil, chaga-se ao momento de canalizar a atenção para o mercado e identificar por quanto estão precificando a empresa.

O mercado, vez ou outra, determina o preço para cima (supervalorização) ou para baixo (subvalorização) em razão de inúmeros fatores econômicos (expectativa de baixo/alto crescimento do faturamento) e sociais (especulação do mercado/lançamento de novos produtos/notícias negativas/regulamentação do Governo).

Um emprego adequado do capital, segundo relatos (GRAHAM, 1949), seria a razão de até 10x no preço de compra da empresa.

Portanto, se você pagou R$ 1,00 e o lucro por ação foi de R$ 0,20, tem-se uma razão P/L de 5x. Elucido, agora, a fórmula:

R$ 1,00 (preço de compra) / R$ 0,20 (lucro por ação)
= 5x

Em outras palavras, se a empresa mantém seu ritmo de lucratividade nos mesmos moldes do reportado, você terá o retorno total do capital investido em 5 (cinco) anos, tempo plenamente aceitável no mercado financeiro e pelos investidores tradicionais, posto que historicamente estimam até 10 (dez) anos para que o capital retorne.

Hipoteticamente falando, muitos questionariam esse rápido retorno e procurariam saber quais os motivos da baixa precificação do mercado (existe aqui uma potencial oportunidade? Do que o mercado está temendo?), antes de tomar qualquer decisão.

Servindo como régua niveladora, a priori, um P/L acima de 10x faz com que o capital demore muito tempo para retornar, enquanto um P/L abaixo disso passa pelo filtro preliminar da seleção de uma boa empresa a ser investida, contanto que este não seja o único parâmetro da análise e da averiguação.

Levando esse critério ao nível macro, com vistas a identificar uma tendência de ciclo econômico da Bolsa de Valores (Expansão? Prosperidade? Retração? Depressão?), recomendo o cálculo da razão utilizando a média global das empresas listadas no índice desejado (Ibovespa, Nasdaq, S&P 500, Dow Jones, etc).

Índice Preço sobre Valor Patrimonial da Ação (P/VPA)

Com o mínimo conceito sobre o que são ações, o seu valor patrimonial será a quantificação contábil unitária.

Em outras palavras, consigo extrair o patrimônio de uma empresa somando o seu total de bens e direitos, reduzindo logo em seguida pelo seu total de obrigações e responsabilidades. Facilitando em fórmula:

(Bens + Direitos) – Obrigações
= Patrimônio Líquido da Empresa

Importante destacar que esse patrimônio sempre será líquido, ou seja, depois de apuradas e descontadas todas as obrigações assumidas, seja de curto, médio ou longo prazo.

Digamos que a empresa possua um imóvel contabilizado por R$ 100mil, mas possua um empréstimo no banco contabilizado por R$ 80mil, logo, seu patrimônio líquido será de R$ 20mil.

Em sequência, consigo identificar o valor contábil de uma ação desta empresa, posto que já sei o quanto de patrimônio líquido ela possui, bastando agora extrair a quantidade total de ações por ela emitida.

Se tratando de empresas listadas na Bolsa de Valores, esses dados sempre estarão abertos ao público em geral, cabendo ao interessado realizar as pesquisas necessárias.

Dando continuidade, realizo o cálculo do valor patrimonial da ação para chegar ao cálculo do índice P/VPA, da seguinte maneira:

Patrimônio Líquido / Total de Ações Emitidas
= Valor Patrimonial da Ação

Com as munições necessárias, pode-se avaliar se o mercado está pagando caro (supervalorização) ou barato (subvalorização) por uma ação da empresa, levando em consideração apenas e tão somente seu valor contábil.

Uma razão de até 1,5x no emprego do capital é considerado como um investimento saudável (GRAHAM, 1949).

Portanto, se você pagou R$ 1,00 e o valor patrimonial da ação é de R$ 0,80, tem-se uma razão P/VPA de 1,25x. Exponho em fórmula:

R$ 1,00 (preço de compra) / R$ 0,80 (valor patrimonial da ação)
= 1,25x

De acordo com o art. 1º da Lei 9.430/96, toda e qualquer empresa listada na bolsa precisa divulgar trimestralmente seus balanços patrimoniais.

O indivíduo arguto perceberá que nem sempre o valor patrimonial identificado será reflexo da situação atual da empresa, vez que a apuração contábil será pontual (geralmente em 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário) e nunca no momento da avaliação.

O que se espera, contudo, é que se tenha uma previsibilidade sobre os rumos da empresa e que isso sirva de norte balizador para o mercado.

Da mesma maneira, recomendo a aplicação do índice P/VPA nos mesmos moldes do índice P/L para identificar uma tendência de ciclos econômicos na Bolsa de Valores, servindo como critério adicional na tomada de decisões.

Índice Cash-Yield ou Dividend-Yield

Este índice é bem visto por investidores fundamentalistas. Um exemplo clássico da bolsa brasileira é o investidor Luiz Barsi Filho.

Quando uma empresa reporta lucros, basicamente, por previsão do art. 202 da Lei 6.404/76, ela distribui uma parte desses ganhos aos acionistas, que se chamam dividendos, destinando o restante para o refinanciamento das suas atividades, ou, a depender do caso, resolvem destinar apenas ao reinvestimento na empresa.

Certamente, isso vai depender da política de distribuição de lucros adotada pela companhia (Governança Corporativa), que por vezes pode ser omissa e deixar a cargo do que dispôs o legislador, que determina a nunca ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido ajustado.

Superada essa etapa, digamos que a empresa registrou um lucro líquido por ação de R$ 0,20 e, por determinação do seu Estatuto Social e das regras de Governança Corporativa, necessita distribuir dividendos mínimos obrigatórios em 50%, logo, terá que pagar R$ 0,10 por ação a cada acionista.

Supondo que você tenha pago R$ 1,00 por ação da empresa, sua taxa de dividendos será de 10%. Segue em fórmula:

R$ 0,10 (dividendos por ação) / R$ 1,00 (preço de compra)
= 10%

Investidores fundamentalistas atualizam frequentemente suas projeções de retorno financeiro utilizando este indicador.

O fundamentalista inteligente quer dinheiro no bolso no curto, médio e longo prazo

Seguindo essa virtude, um Dividend-Yield elevado faz com que o capital investido retorne rápido sem se desfazer do bem investido, ao passo que níveis baixos refletem na diminuição do fluxo de renda anual que entra no caixa do investidor.

Em que pese as passagens acima, é necessário atentar-se que nem sempre níveis baixos de dividendos refletem em uma má escolha do investidor.

É primordial analisar este indicador em conjunto com o quanto de lucro por ação a empresa está entregando, ou seja, com o quanto de resultado ela reporta.

Por vezes, a empresa possui uma Governança Corporativa focada no reinvestimento dos ganhos para futura expansão dos negócios, o que não deixa de ser um ótimo indicativo, trazendo reflexos no aumento do preço de cotação da empresa no mercado financeiro.

Para identificar tendências de ciclos econômicos, recomendo analisar as seguintes questões:

  1. O capital foi mal ou bem empregado do pelo investidor?
  2. Comprou ações subvalorizadas ou supervalorizadas?
  3. Existe baixa projeção sobre a evolução e o desempenho da empresa ao longo dos anos?
  4. O resultado está associado ao fraco crescimento da economia?

Índice da Bolsa sobre Cotação do Ouro

O ouro é um importante ativo financeiro por conta da sua escassez no mundo.

Embora, por sí só, não remunere o capital investido com juros, tem a característica da raridade e não influência sobre pressões inflacionárias.

Para a felicidade de uns e tristeza de outros, a Constituição Federal Americana de 1789 menciona, expressamente, que o ouro e a prata são os únicos meios de proposta de pagamento de dívidas.

U.S. Constitution – Article 1 Section 10

Article 1 – The Legislative Branch

Section 10 – Powers Prohibited of States

No State shall enter into any Treaty, Alliance, or Confederation; grant Letters of Marque and Reprisal; coin Money; emit Bills of Credit; make any Thing but gold and silver Coin a Tender in Payment of Debts.USA Constitution

Embora tradicionalmente essa declaração não seja praticada, uma das maiores nações mundial estipulou que ouro e prata são meios reais de pagamento de dívidas.

Dito isso, atribuo ao ouro a função de um ativo financeiro de parâmetro, capaz de averiguar o preço dos ativos atrelados a uma moeda corrente.

O índice da bolsa industrial estadunidense, ou Dow Jones em sua abreviação, é composto por diversas empresas que possuem capital aberto ao público em geral, e sua premissa é representar a média de desempenho das principais ações negociadas nos últimos meses

Tendo em mente que a aquisição das empresas é negociada em moeda corrente, e que 1 ponto do Dow Jones equivale a US$ 1,00 dólar investido no pool de empresas do índice, na medida em que o Dow Jones evolui (aumenta a circulação de capital) frente ao preço do ouro, aumenta-se o número de moedas corrente entre os investidores da bolsa e, no compasso em que o Dow Jones recua (diminui a circulação de capital) frente ao preço do ouro, redistribui-se o número de moedas corrente para outros tipos de ativos.

Como o ouro é escasso, raro e limitado, entendo ser possível mensurar o volume de capital em circulação e identificar uma possível tendência de ciclos econômicos entre a bolsa e o ouro, assim como também consigo medir esse indicativo com outros tipos de commodities (ex: prata e petróleo).

Explico, abaixo, com informações reais, extraídas do dia 24/05/2020 na ferramenta de análise gráfica chamada StockCharts, utilizando a moeda corrente US$ dólar:

Cotação Dow Jones (INDU): 24,446.16 pontos
Dow Jones (INDU) é o índice que mede o desempenho das principais ações industriais da bolsa de valores dos Estados Unidos da América.

Cotação Ouro: US$ 1,735.50 onça troy (oz)
1 onça troy equivale aproximadamente a 31,10 gramas de ouro puro (24k).

Fórmula:

24,446.16 (Índice Dow Jones) / US$ 1,735.50 (Valor da onça troy)
= 14,08x

O investidor que estivesse posicionado no mercado americano, em ações do índice Dow Jones, teria a condição de adquirir, em termos unitários, o equivalente a 14,08 vezes a onça troy de ouro, ou seja, aproximadamente 438 gramas de ouro puro, um elemento com valor mensurável fisicamente.

Assim sendo, na medida em que o índice Dow Jones aumenta seu valor unitário em comparação ao ouro, o investidor aumenta a quantidade que poderia levar para casa de algo físico, palpável e escasso na natureza.

Na contramão, se a razão entre o índice Dow Jones e o valor da onça troy diminui, o investidor reduz a quantidade que poderia adquirir do metal precioso, indicando para quem já está posicionado no metal um sinal positivo para alocar seu capital na bolsa de valores.

Utilizando todas as análises paralelas possíveis e aqui mencionadas até o momento, o investidor teria indícios mínimos para prever ciclos econômicos, favoráveis ou não, para um processo de expansão ou retração, bem como teria a capacidade de tomar decisões antecipadas para redistribuir suas economias, conforme o caso.

Índice da Bolsa sobre Barril do Petróleo

Sem ser tautológico, explico que a razão entre o Índice da Bolsa sobre o Barril do Petróleo segue o mesmo raciocínio aplicado com a onça troy do ouro para tendências de ciclos econômicos.

Dessa forma, segue, abaixo, a razão com informações reais, extraídas do dia 24/05/2020 na ferramenta de análise gráfica chamada StockCharts, utilizando a moeda corrente US$ dólar:

Cotação Dow Jones (INDU): 24,446.16 pontos
Dow Jones (INDU) é o índice que mede o desempenho das principais ações industriais da bolsa de valores dos Estados Unidos da América.

Cotação Barril WTI (WTIC): US$ 33.25
Barril WTI (West Texas Intermediate) reflete a origem da extração do petróleo cru (Região petrolífera do Texas), sendo negociado em contratos do mercado financeiro dos Estados Unidos da América1.

Fórmula:

24,446.16 (Índice Dow Jones) / US$ 33.25 (Valor do barril WTI)
= 735,22x

Preço do Imóvel sobre Valor Anual do Aluguel

Por fim e não menos importante, destaco a possibilidade de avaliar a precificação dos ativos imobiliários como parâmetro de identificação de uma tendência de ciclos econômicos.

Apesar do avanço do setor imobiliário com a oferta de produtos financeiros modernos (ex: fundos imobiliários), fazendo com que o indivíduo possua quotas de participação em grandes empreendimentos, prefiro mensurar o nível de circulação econômica usando um método simples, porém operacionalmente trabalhoso, que é utilizar a razão do valor pago pelo empreendimento sobre o valor anual da sua procura em termos locatícios.

Imagine que você esteja procurando um imóvel para investir. Certamente efetuará a procura levando em consideração diversos fatores, tais como localização, infraestrutura, despesas fixas com condomínio e imposto predial, além do preço que está pagando.

Dito tudo isso, preciso mencionar um indicador econômico denominado de taxa Selic2 que, resumidamente, representa a taxa percentual média dos juros que balizam as operações de financiamento do setor bancário do Brasil.

Sabendo que a taxa Selic é uma diretriz base para a remuneração do capital e, trazendo para o exemplo de que esta taxa estivesse em 4% (quatro por cento) ao ano, o indivíduo arguto poderia realizar uma pesquisa nas redondezas do ativo imobiliário e verificar quanto o mercado está pagando pelo aluguel anual do empreendimento ou de construções do mesmo porte.

Segue abaixo a fórmula com valores hipotéticos:

R$ 500.000,00 (Valor do imóvel) / R$ 30.000,00 (Valor anual do aluguel) * 100
= 6%

Se for constatado que a taxa anual de retorno, na maioria dos empreendimentos analisados, está acima da Selic, pode-se cogitar uma tendência de baixa no valor contábil dos ativos imobiliários ou o apetite ao risco por parte dos inquilinos.

Do contrário, estando a taxa anual de retorno abaixo da Selic, o indivíduo está comprando um ativo supervalorizado, seja por razões econômicas (mercado inflado) ou sociais (desejo de adquirir a propriedade custe o que custar).

Considerações finais

Concluo afirmando que os ciclos econômicos e a identificação das suas respectivas tendências requerem uma pesquisa cuidadosa e multidisciplinar.

Estude diariamente as notícias do mercado financeiro e imobiliário, sobre o que estão ventilando, e faça uma análise da evolução dos balanços financeiros das empresas de capital aberto (se estão reportando lucro ou prejuízo), bem como verifiquem os preços praticados pelos agentes do mercado imobiliário.

Recomendo a todos que analisem frequentemente o nível de circulação de dinheiro na bolsa de valores e efetuem uma projeção gráfica dessa evolução historicamente, cruzando esses dados com a aplicação dos métodos de identificação de tendências dos ciclos econômicas citadas por mim.

Referências

  1. WOLFFENBÜTTEL, Andréa. O que é? – Petróleo Brent e WTI. 2005. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2083:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 11 fev. 2021.
  2. WIKIPÉDIA. Taxa Selic. 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Taxa_Selic>. Acesso em: 11 fev. 2021.

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