Ciclos econômicos – Primeira parte

janeiro 25th, 2021

ciclos econômicos

Começo o post com um paradoxo, tendo em vista que não trabalho no setor financeiro e tão pouco sou um economista. Talvez seja estranho, mas tudo depende do ponto de vista. Sou formado na área de humanas, especificamente na área do Direito.

Sim. Advogado, curioso e sistemático. Bom, existem muitas semelhanças entre alguns dos ofícios que citei, a começar que ambos estudam a ciência humana e as suas mais diversas formas de expressão do comportamento humano.

De antemão, gostaria de mencionar que o assunto está dividido em duas partes, e que não vou detalhar conceitos acadêmicos ou fazer referências teóricas, me delimitando ao empirismo, dados históricos e minha experiência prática em investimentos no mercado.

Com esse crédito, somado ao fato de que estudo por conta própria e aprendi nos anos acadêmicos alguns dos princípios básicos da disciplina “Introdução à Economia” – circunstância que, inclusive, deveria ser implementada desde o ensino médio em qualquer país do mundo – vou abordar sobre o tema dos ciclos econômicos.

Mas afinal, o que é um ciclo?

Essa palavra possui diversas etimologias, sofrendo alternância de acordo com a sua utilização ou contextualização. Cito alguns exemplos1:

Astronomia
Período cuja duração corresponde à volta de certos fenômenos naturais.

Cronologia
Período marcado pela ocorrência de fenômenos naturais ou sociais.

Estatística
Período depois do qual se devem repetir os fatos observados.

Engenharia mecânica
Sucessão de fenômenos necessários ao funcionamento de um motor de explosão e que se processa em cada um dos cilindros.

História – Sociologia
Fase em que predomina determinado fato político, social e/ou econômico.

Para o assunto do post, vou me ater aos conceitos dos ciclos históricos, sociológicos e cronológicos, centralizando a etimologia para o conjunto de atos e fatos políticos, sociais e econômicos que possuem um termo inicial e um termo final de incidência, podendo ou não sofrer iterações ao longo do tempo.

Naturalmente, todos estão inseridos em ciclos. As pessoas nascem, crescem e, algum dia, falecem. Esse é o ciclo da vida (obs: que eu conheço até hoje e com base em minhas crenças sobre até que ponto estamos vivos). Deixando de lado o espectro da metafísica, pergunto: quem nunca passou ou passará por algum ciclo social?

Seja qual for o status quo de cada indivíduo, cada um possui peculiaridades e particularidades que o faz rodear de atos e fatos únicos, podendo ser repetitivos ou não durante seu tempo de vida. Assim sendo, a título elucidativo, ordeno abaixo algumas situações hipotéticas com personagens fictícios no ambiente sociológico brasileiro.

Nome Infância Adolescência Idade adulta
Pedro Colégio particular Colégio particular Faculdade particular
Jorge Colégio público Colégio particular Faculdade pública
Maria Colégio público Colégio público Faculdade pública
Sofia Colégio público Colégio particular Faculdade particular

Com base na tabela acima, posso identificar mudanças de ciclo durante várias fases da vida de cada personagem, umas provavelmente mais impactantes do que outras.

Pedro, isoladamente, teve a sua infância rodeada de crianças onde os pais, de certa forma, possuíam alguma poupança e condições financeira para arcar com os custos da rede privada de ensino. No Brasil2 3 4, apesar da maioria das crianças estarem concentradas na rede pública de ensino, notavelmente as famílias que prosperam financeiramente optam para que seus filhos estejam inseridos em um ambiente particular, seja por questões de segurança, gestão acadêmica ou oportunidades daquela atmosfera socioeconômica.

Jorge, Maria e Sofia, ao contrário, nasceram em um ambiente com menos condições financeira. Os fatores que os inseriram nessa situação não serão aqui induzidos, porque daria abertura o suficiente para a redação de um novo post. Portanto, o que devemos observar é que atos e fatos sociais, culturais, políticos e econômicos os conduziram a um ciclo de ensino divergente do de Pedro.

No momento em que escrevo, o Brasil continua adotando a República como forma de governo e o Capitalismo como modelo de sistema econômico. De tal modo, é natural que ocorram associações seletivas nos ciclos da vida de cada indivíduo, levando em consideração que ninguém será alocado nas mesmas condições sociais e econômicas.

Chega-se, portanto, ao ponto que interessa: as transições dos personagens mencionados para novos ciclos de vida e ensino. É necessário um destaque especial aqui, porque essa analogia é capaz de abrir a mente e entender o tema central da identificação dos ciclos econômicos.

Transições são marcadas por mudanças. As mudanças são ocasionadas por diversos fatores que levam os indivíduos a adotarem novas medidas, aumentando ou diminuindo a demanda por determinado produto, serviço ou situação. Então lembre-se: se o planeta Terra está em constante mudança com os movimentos de rotação e translação, por que as pessoas não mudariam seus comportamentos e atitudes?

Todos os personagens, intrinsecamente, acabam passando por processos de mudança, seja no aspecto físico, intelectual, social, cultural, ético ou moral, de acordo com os acontecimentos que circundam suas vidas. Os novos estágios da vida, ou seja, a adolescência e posteriormente a idade adulta, por si só, são caracterizados como novos ciclos, estes não iterativos.

Ao imaginar, por exemplo, os processos das mudanças ao longo do período da vida desses personagens, posso fazer algumas conclusões de cognição hipotética:

  1. O impacto causado em Jorge e Sofia, em razão da mudança da fase da infância para a adolescência, somado ao processo de transição do colégio público para o particular, requer desses personagens boa capacidade de absorção e compreensão das adaptações que enfrentarão pela frente (afastar-se de alguns colegas de classe, fazer novas conexões, digerir o novo ambiente socioeconômico, entender os novos métodos de gestão acadêmica, etc.);
  2. Jorge e Sofia podem ou não ter sofrido fortes mudanças no ambiente familiar (necessidade de entender as novas responsabilidades da vida), ocasionado ou não pelo aumento da capacidade financeira dos seus pais, que agora resolveram migrar seus filhos para a rede privada de ensino com o objetivo de oferecer melhores condições de ensino;
  3. O fato de Pedro e Maria continuarem a adolescência na mesma rede de ensino não retira a essência da mudança do ciclo da vida. No mesmo passo, o processo de adaptação do ambiente é mais brando (ao menos poderia ser), levando em consideração o histórico de vida e a capacidade de adaptação desses personagens (já que permaneceram no mesmo ambiente socioeconômico);
  4. As responsabilidades de Pedro e Maria também aumentam com o passar dos anos, tendo em vista que um dia também chegarão na idade adulta e terão de enfrentar as dificuldades de ingressar em uma faculdade, empreender ou construir carreira no mercado de trabalho;
  5. A transição para a idade adulta é, no meu ponto de vista, a mais bela explicação empírica da existência dos ciclos. Primeiro porque os personagens precisam realizar metas bem definidas (algumas vezes forçadas pela sociedade) sobre qual será seu futuro profissional. Segundo porque o critério de escolha de uma faculdade, seja ela pública ou privada, inevitavelmente fará com que seu atual círculo social seja pulverizado, indicando sérios fatores de mudança. Terceiro porque, a depender do sonho a ser almejado, o personagem poderá, inclusive, mudar de território domiciliar, afastando-se das raízes que o tornaram único; e
  6. A cada nova mudança de fase da vida, os impactos tendem a ser maiores, porque cada passo e decisão tomada pelos personagens refletem diretamente sobre os rumos e destinos que suas vidas tomarão.

Ante toda exposição, não espero como resultado final a compreensão acadêmica do que seja um ciclo, mas tão somente que você entenda o significado intrínseco, com vistas a aplicar esse conhecimento da forma mais abrangente e filosófica possível, podendo transpassar por qualquer assunto que envolva essa palavra, da mesma forma como discorri sobre situações hipotéticas com personagens fictícios.

A relação da transição com os ciclos econômicos

Analisei até o momento a noção do que são os ciclos, elucidando com base em terminologias e hipóteses. Passo a divagar sobre as transições como a base da verificação dos ciclos econômicos.

Para os que querem obter informações acadêmicas sobre o conceito de ciclo econômico, existem várias classificações de teóricos sobre o tema5, entretanto, o objetivo aqui é entender o comportamento humano e das instituições – estas, por sua vez, compostas por pessoas – que fomentam o livre mercado na construção dos ciclos econômicos.

Basicamente identifico 04 (quatro) estágios primordiais para um ciclo econômico. São eles: expansão, prosperidade, recessão e depressão. Seja você um empregado, autônomo, empreendedor ou investidor, é crucial acompanhar e entender em qual estágio de um ou dos vários ciclos econômicos se encontra. Isso traz reflexos na sua proteção, redistribuição patrimonial ou preservação do que conquistou, alocando, por tabela, suas moedas correntes em novos bens que representem dinheiro.

Para os que não sabem distinguir o que é dinheiro de moeda corrente, lembrem-se somente que dinheiro é tudo aquilo que tem valor intrínseco, que é passível de gerar renda ou ganho de capital sem perder sua real essência (ex: imóveis, gado, ações, quotas sociais de empresas e metais preciosos). Ao contrário, moeda corrente é aquela utilizada como meio de troca e é aceitável como tal, ou seja, aquela que se usa para receber ou enviar algo que gere ou tenha algum tipo de valor.

Quando eu ou você trabalhamos para alguém, damos nossos esforços físicos e intelectuais em troca de alguma coisa. Como não se consegue medir tudo que é consumível e/ou adquirível, se convenciona um meio, ou seja, uma moeda corrente aceitável na sociedade para quantificar isso. Contudo, preciso ressaltar que não estou considerando aqui os efeitos que a intervenção das Instituições Governamentais podem causar no processo inflacionário da moeda corrente (MALONEY, 2009).

Dito isto, vou ao que interessa:

Expansão

Atribuo à expansão o título de rei das transições, tendo em vista que enxergo nessa etapa a injeção de capital causada pela identificação de oportunidade de crescimento em um ou vários setores da economia (ex: petróleo, metais, empresas da bolsa, títulos públicos, títulos privados, agronegócio, etc.) ou pela saturação de um ou vários outros setores causando a redistribuição das riquezas globais.

O processo de expansão de um setor pode repercutir na chegada da recessão em outros setores e vice-versa. As expansões geralmente são acompanhadas por uma singela reação dos indicadores econômicos, tais como geração de empregos, aumento da produção de bens e prestação de serviços, crédito crescente, aumento dos lucros ou dos investimentos, sendo que este último pode ser reflexo do processo da redistribuição financeira causada pelas baixas rentabilidades sobre o capital (percentual retornado ao bolso do empreendedor ou investidor sobre o montante aportado) de um ou mais setores distintos.

Graças aos avanços tecnológicos da era moderna, atualmente posso efetuar análises históricas inserindo-as em gráficos para facilitar a identificação de um ou mais estágios de transição dos ciclos econômicos. Mais adiante mostrarei a importância da utilização da história aos gráficos e da aplicação de métodos para identificação de tendências econômicas.

Prosperidade

Prosperidade ou “boom” é o ápice do longo processo de expansão das riquezas de forma pungente. Muitas vezes – senão todas – é um período acompanhando de prolixas notícias sobre topos históricos de valorização.

O volume de capital financeiro deixa todos ensandecidos ao ponto de injetar suas economias em algo que não faz mais sentido em termos de rentabilidade sobre o capital. Segundo relatos (BAZIN, 2006), uma taxa de 6% (seis por cento) ao ano é mundialmente aceitável para os padrões mínimos de retorno. Abaixo disso, provavelmente as economias das pessoas estariam sendo corroídas pelos efeitos inflacionários causados pela impressão de moeda fiduciária (a tal moeda corrente, comentada lá atrás, é diretamente influenciada porquê não possui lastro intrínseco).

Longos períodos de prosperidade podem ser ótimos parâmetros para identificação da iminência da redistribuição do capital em novos setores, seja pela baixa rentabilidade enxergada pelo indivíduo arguto, seja pela insustentabilidade dos negócios ou dos valores dos ativos nos atuais patamares.

As correções dos valores, quando não ocasionadas pela retração da atividade econômica ou pelo colapso financeiro, são saudáveis e necessárias para manter a prosperidade em níveis de sustentabilidade.

Recessão

A recessão é causada por uma retração da atividade econômica, ocorrendo a diminuição da circulação de bens ou serviços e o consequente arrefecimento do consumo e do crédito.Historicamente as recessões são justificadas, em sua grande maioria, por atos e fatos políticos e sociais (ex: subprime6 de 2008), embora enquanto escrevia algumas passagens desse post (meados de 13/06/2020) a economia mundial estava vivenciando uma recessão global pautada em um fenômeno biológico (vírus covid-197) e sem precedentes.

Ancorado nesse cenário, o processo de isolamento social repercutido pelo covid-19 fez desacelerar toda a cadeia produtiva, sob pena de, não o fazendo, aumentar geometricamente a taxa de mortalidade regional/mundial. Mais importante do que o capital financeiro é o capital humano, portanto, com menos pessoas vivas tem-se menos circulação de bens e serviços e menos produção global. Já do outro lado do cenário, a paralisação econômica em prol do combate ao vírus trouxe drásticos efeitos colaterais.

As pessoas começam a consumir apenas o necessário, empresas reduzem seus quadros de funcionários para sobreviver ou simplesmente fecham as portas. Instaura-se, portanto, um efeito cascata de redução na circulação de bens e serviços. Assim sendo, medidas emergenciais do Governo começam a ser adotadas para evitar um estado de calamidade pública ou até mesmo a ocorrência de uma depressão econômica.

O período de recessão é acompanhado por uma leve ou média correção na precificação dos ativos financeiros, especialmente em empresas de capital aberto, tendo em vista a diminuição da atividade econômica, da lucratividade e da baixa demanda por produtos e serviços. Como consequência, as riquezas acumuladas sofrem redistribuições, seja para a manutenção do sustento familiar ou para a busca de um porto seguro.

Depressão

A depressão é identificada de acordo com a duração em que uma recessão se instala em uma nação ou no mundo. Em linhas gerais, a depressão decorre da retração prolongada da atividade econômica, não controlada pela regulação natural do mercado (oferta/demanda) ou pela não intervenção assertiva do Governo, na tentativa de reestabelecer o eixo da circulação dos bens e serviços.

Consequentemente, nota-se uma acentuada reação negativa dos indicadores econômicos, tais como taxas elevadas de desemprego, redução do consumo, ausência de crédito, juros elevados, desinvestimentos e reporte de prejuízos pelas empresas. Historicamente, o exemplo clássico do ciclo de depressão é a Crise de 1929 dos Estados Unidos da América8, ocasionada pelo desequilíbrio entre a excessiva oferta industrial versus a escassez da demanda consumerista.

Após o grande período de prosperidade percebido pela economia estadunidense, a renda da população não conseguiu acompanhar o elevado grau da produção industrial, revertendo os indicadores econômicos ladeira abaixo e afetando globalmente a economia dos países que estavam interligados aos seus acordos comerciais. Dessa forma, em razão do conjunto de fatores e indicadores negativos, ocorre a desvalorização excessiva e prolongada dos ativos financeiros.

A título elucidativo, exemplifico os períodos de recessão e depressão através do gráfico abaixo, que contém dados históricos do índice industrial Dow Jones:

Ciclos econômicos

Particularmente, diferencio uma recessão de uma depressão analisando o nível de descapitalização das empresas, bem como a duração em que uma ou outra perdura. Enquanto na crise do Subprime o Dow Jones recuou 46% (saindo do topo de 17.091 pontos para o suporte de 9.168 pontos) com duração aproximada de 01 (um) ano, na Grande Depressão o Dow Jones recuou 84% (saindo do topo de 5.152 pontos para o suporte de 807 pontos) com duração aproximada de 04 (quatro) anos, conforme destaco em vermelho no gráfico acima.

Dessa forma, encerro os diferentes estágios dos ciclos econômicos, e discorro na segunda parte alguns dos métodos que utilizo para identificação de tendências econômicas. Dúvidas, debates ou sugestões, entre em contato comigo e terei o maior prazer de conversar sobre o assunto!

Referências

  1. LANGUAGES, Oxford. 2021. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&ei=NtC-W4-EL4mVwgSZqb3YBg&q=ciclo+conceito&oq=ciclo&gs_l=psy-ab.3.0.35i39k1j0l4j0i131k1j0j0i131k1l2j0.2416.3886.0.5290.6.6.0.0.0.0.139.532.0j4.5.0….0…1c.1.64.psy-ab..1.5.707.6..0i67k1.176.I9YzKJEjcXg>. Acesso em: 25 jan. 2021.
  2. VEJA. Aumenta o número de alunos em escolas particulares. 2015. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/educacao/aumenta-o-numero-de-alunos-em-escolas-particulares/>. Acesso em: 25 jan. 2021.
  3. PRATES, Marco. Porque todos querem escola particular e universidade pública. 2012. Disponível em: <https://exame.com/brasil/porque-todos-querem-escola-particular-e-universidade-publica/>. Acesso em: 25 jan. 2021.
  4. CONTEÚDO. Estadão. Alunos mais ricos trocam faculdade pública por particular. 2017. Disponível em: <https://exame.com/brasil/alunos-mais-ricos-trocam-faculdade-publica-por-particular/>. Acesso em: 25 jan. 2021.
  5. WIKIPÉDIA. Ciclos econômicos. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_econ%C3%B4mico>. Acesso em: 25 jan. 2021.
  6. WIKIPÉDIA. Crise do subprime. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_do_subprime>. Acesso em: 25 jan. 2021.
  7. WIKIPÉDIA. Covid-19. 2021. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/COVID-19>. Acesso em: 25 jan. 2021.
  8. WIKIPÉDIA. Grande depressão. 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%C3%A3o>. Acesso em: 25 jan. 2021.

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